sábado, 5 de maio de 2007

Como deveria ter sido escrita a carta do Eurico ao Ministro dos Esportes


Rio de Janeiro, 04 de maio de 2007

Exmo. Sr. Ministro dos Esportes Orlando Silva

O Vasco da Gama é um clube com raízes efetivamente populares. Nós somos o verdadeiro clube do povo. Assim nos consideramos porque a nossa popularidade foi alcançada com o nosso próprio sangue, o nosso próprio suor e as nossas próprias lágrimas. Fundamentalmente, com a nossa luta admirável pela igualdade social e étnica travada na então capital da República. Nós enfrentamos o preconceito reinante no Rio de Janeiro no início do século XX. Corajosos, rompemos o elitismo do futebol da época e promovemos popularidade posterior àqueles que antes insistiam em nos discriminar. Afinal, foi por conta da determinação vascaína que o esporte de poucos, muito poucos, transformou-se no esporte desta nação.

Nossa Instituição completa 109 anos de existência no próximo dia 21 de agosto. Temos História. Exigimos respeito. Para que pudéssemos ter História, tivemos que existir resistindo. Para que pudéssemos exigir respeito, tivemos que nos impor insistindo. Tanto os meus antecessores na Presidência do Vasco quanto os meus antepassados portugueses conheceram exatamente o preço da resistência e da insistência . Souberam o quanto custa ser imigrante, vascaíno e lutar pela inclusão social de negros e pobres através do futebol e do esporte numa sociedade repleta de preconceitos explícitos e implícitos. Custou-nos muito. Custa-nos muito.

Estranho seria, portanto, que as belas páginas escritas por aqueles que fizeram desta Instituição um orgulho para todos os que lutam por igualdade fossem rasgadas exatamente por um de nós, vascaínos. Nego-me a rasgá-las (rasgo o Estatuto do Clube e as leis vigentes no país). Não tenho o direito, sequer, de imaginar que de minhas mãos (prefiro usa-las para saquear os cofres do clube) parta o lançamento do Vasco em um projeto aventureiro (consequente) que satisfaz, na verdade, o sonho de oportunistas (na realidade dos verdadeiros vascaínos, que ousam fazer do Vasco um clube bem administrado e vitorioso). Refiro-me ao delírio empresarial que paira sobre a administração dos clubes brasileiros com roupagem “modernosa”, promessas que contemplam anseios desesperados e efeitos eminentemente catastróficos (para quebrar o Vasco, não precisei, transforma-lo em Clube-empresa) . O clube-empresa pode ser o paraíso para alguns aproveitadores que o defendem, não para nós (que nos apropriamos indevidamente do Clube e dos seus recursos financeiros). Pode ser a aparente solução para clubes desprovidos de passado, não para o nosso (que do jeito que vai, não terá futuro). No entanto, há algo que ele não deve ser em hipótese alguma: subterfúgio para os manobrismos ilegais daqueles que se julgam mais espertos do que os outros. (só eu sou mais esperto que os outros, me sirvo do Vasco e faço de contas que sirvo ao Vasco)

Na recente reunião que tivemos, o assunto clube-empresa acirrou ânimos e causou um certo constrangimento (face a minha falta de educação). Protagonizei uma discussão com o senhor Márcio Baroukel Braga. O senhor Baroukel publicou uma carta que foi endereçada a V. Exª. na qual, em meio a um pedido de desculpas pela discussão, pretendeu me ofender (coisa que alias é muito fácil, pelo extenso rabo que tenho). Logo ele, que fala com tanta eloqüência sobre gestão moderna, dirige o Flamengo pela sexta vez e, pelo jeito, ainda não aprendeu como modernizar a sua própria gestão após seis mandatos. Seriedade, transparência e profissionalismo não são traços marcantes de suas seis gestões (muito menos das minhas). Muito pelo contrário.

Mas não quero me ater às ofensas do senhor Baroukel. Prefiro desmontar as mentiras (evitar falar as verdades). Em primeiro lugar, não houve anulação das eleições realizadas no Vasco no dia 13 de novembro de 2006 (na realidade as eleições foram anuladas) . De fato, há uma discussão na Justiça do Rio de Janeiro levantada por um grupo (que sabe das patifarias que já fiz no Vasco e fora dele) que, coincidentemente, possui a mesma visão daqueles que defendem o manobrismo empresarial se apoderando dos clubes de futebol (esse grupo na realidade, não defende o Clube-empresa e sim que o Vasco seja administratado como se fosse uma empresa). Foi este grupo que quis anular as eleições no Vasco. Usando como apoio não o Ministério Público, mas uma perícia contratada por eles, logo, sem nenhum valor jurídico (mas que espelha a verdade, que eu tento esconder e como eu não contestei, em tempo hábil, junto a justiça, fui condenado a revelia, a ter que realizar novas eleições). A discussão prossegue, mas tenho convicção de que a verdade (mentira) vai prevalecer. (para isso conto com o Zveiter, o Marlan e outros. Para isso não faltará grana) .

Acredito na verdade (mentira) porque, nestes 109 anos, ela sempre sorriu por último. Conforme mencionei anteriormente, custou-nos muito fazê-la prevalecer. Fomos atacados sempre através de motivações superficiais diversas, mas uma única razão real: o ódio do preconceito que sempre rondou os corações dos nossos inimigos. (que representam a banda boa do Vasco e do esporte em geral).

Foi assim que me tornei a “flor do lodo”. (o próprio "lodo". "Flor" só quando criança, brincando de fazer "meia" na Urca) Combativo, apaixonado, dedicado, explosivo, (Covarde, ladrão, mentiroso, traidor, mafioso, incompetente) mas do lado errado daquele definido como correto pelo status quo (prefiro sempre estar na banda podre do esporte. Lá é que estão as vantagens pessoais, as quais me habituei). O Vasco nunca foi “simpático” (isso eu consegui, torna-lo o clube mais odiado do Brasil). Razões óbvias: o ambiente é sempre hostil a quem se arvora em representante de minorias (compostas pela corja e pelos sanguesugas do esporte). Talvez a mim esta missão vascaína tenha custado mais do que a todos os outros que por aqui passaram anteriormente. Não me arrependo, (porque saqueando os cofres do Vasco, me tornei uma pessoa rica e poderosa) embora o esfacelamento moral causado pela mentira mereça sempre muito mais destaque do que a verdade reparada (não conseguiram esfacelar a minha moral, simplesmente, porque eu nunca tive moral). O que me importa é que ela tem sido reparada, sem que o Vasco sofra nenhum tipo de conseqüência (só a falência: esportiva, moral e financeira). E o que vale para as gerações passadas e futuras de vascaínos é que este clube, que faz parte efetivamente da História do Brasil, seguirá o seu rumo baseado nos objetivos sociais idealizados por seus fundadores (que eu traí, sem nenhum arrependimento ou escrúpulo)

Cordialmente, Eurico Ângelo de Oliveira Miranda Presidente (Interino) do Club de Regatas Vasco da Gama

Autor: André Riksen

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